quarta-feira, 15 de abril de 2009

Vesperal de sábado

Cruzamento das ruas Feijó Jr. e Júlio de Castilhos, caos de um sábado à tarde povoado de sacolas, buzinas e gente sangrando pelas calçadas. Tal qual Gentileza, o dos muros coloridos, o andarilho abanava para automóveis sem noção alguma, pura poesia em meio à pressa. Alguns buzinavam, outros ignoravam, tolos riam, ninguém acenava. Calças imundas, barriga rompendo os limites de um casaco duas vezes menor, cabelos desgrenhados, sorriso de amor, feição de quem aceita, traços de sim, sempre sim - de fato, existem rostos sim e rostos não.
Distraído defronte ao sinal, o homem X avista de longe aquele ser que, de imediato, lembrou Macabéia, aquela "tão tosca que sorri para as pessoas na rua, mas é solenemente ignorada". O que faz ali, por Deus? Abana, abana, abana, olha para os carros, será que alguém retornou o gesto? Não. O homem X abaixa o vidro do veículo, avança rente à calçada, olha nos olhos da gentileza travestida em panos rotos, abana e segue. Esboça um meio sorriso. Pelo retrovisor, avista o breve aceno de volta, o doido a fazer-lhe festas em plena esquina. Adentra a Sinimbu com a certeza de que compartilhara Deus como nunca havia experimentado.
Era capaz de.

Nenhum comentário: