domingo, 3 de maio de 2009

O leitor desconhecido

Comprei em um sebo um exemplar usado de Minhas Queridas, coletânea de cartas enviadas por Clarice às irmãs durante o período em que morou fora do Brasil (1944 a 1959). Folheando a obra descobri alguém que também costuma sublinhar frases, parágrafos, fragmentos, até palavras desconhecidas, sem nenhuma espécie de culpa por isso. Sim, porque para alguns deixar sua marca em páginas é crime inafiançável. Penso em tudo que já pus aspas, destaquei, sublinhei, para ler e reler, e reproduzo aqui o que o antigo dono (ou dona) do livro supôs digno de grifo (inclusive, o leitor deu-se o trabalho de copiar vários trechos na última página). Mas interessante mesmo seria encontrá-lo para trocarmos nossas impressões sobre Clarice.

"Mas às vezes basta resolver estar simples, e o milagre se realiza: tudo fica mais simples."
"Não existem lugares, existem pessoas."
"Não fazer nada é uma das ocupações mais produtivas do homem."
"A vida é igual em toda parte, e o que é necessário é a gente ser a gente."
"Tem uma teoria de emoções que diz que a gente fica alegre porque ri."
"Os meses passam depresa, felizmente. Os dias, às vezes, é que não passam."
"...faço tudo na ponta dos dedos sem me misturar a nada."
"Só chaleira fervendo é que levanta a tampa."

P.S.: O sebo Só Ler merece uma tarde sem pressa. Também encontrei por lá exemplares ótimos de literatura pulp, uma edição de Suave é a Noite por R$ 7 e vários títulos de Rubem Fonseca e Marina Colasanti. Fica na Av. Júlio de Castilhos, 1.392, quase esquina com Alfredo Chaves, fone 3225.5877.


Fragmentos

"Às vezes o amor que se dá pesa, quase como responsabilidade na pessoa que o recebe. Eu tenho essa tendência geral para exagerar, e resolvi tentar não exigir dos outros senão o mínimo. É uma forma de paz... Também é bom porque em geral se pode ajudar muito mais as pessoas quando não se está cega pelo amor."

Clarice Lispector (Berna, 19 de outubro de 1948)